Victor Boyadjian, da rádio Bandeirantes, fazia entrevistas para uma reportagem sobre inflação. Um dos poucos presentes à sessão não deliberativa de segunda-feira à tarde, Requião foi questionado. Depois, o repórter passou a perguntar sobre a aposentadoria de Requião. “Essa pensão que o senhor vem recebendo, ou pode receber, o senhor pretende abrir mão?”, perguntou Boyadjian. No áudio, não é possível perceber qualquer agressividade.
Requião respondeu que o benefício vinha sendo concedido aos ex-governadores paranaenses nos últimos 40 anos. “Estou usando essa pensão para pagar as multas que me foram injustamente impostas”, justificou.
O jornalista insistiu no tema e perguntou se o senador estaria disposto a abrir mão da aposentadoria para melhorar a situação econômica do estado. Nesse momento Requião tomou o gravador. O repórter disse que “não estava mais gravando” e tentou recuperar o aparelho. “Não vai desligar mais p... nenhuma. Vou ficar com isso aqui”, disse Requião.
Depois, Boyadjian justificou: “Achei que o senador queria pegar o gravador para falar em off [sem ser gravado]. Mas ele saiu rapidamente pelo corredor em direção ao gabinete dizendo que estava louco para bater num moleque.”
O jornalista foi atrás de Requião e propôs a apagar a entrevista, desde que recuperasse o aparelho. “Não fui ao gabinete dele porque pensei que poderia acontecer alguma coisa comigo. Afinal, ele me ameaçou.” Requião não deu entrevistas sobre o assunto.
Decoro
O Comitê de Imprensa do Senado e o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal prometem ingressar hoje com uma representação na mesa diretora do Senado contra Requião por quebra de decoro parlamentar. São os diretores que vão decidir sobre o encaminhamento do processo para o Conselho de Ética, órgão que delibera sobre punições. Ontem à tarde, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), disse que ainda não havia tomado conhecimento do caso e que aparentava haver um “mal entendido”.
“O senador Requião é um cavalheiro”, declarou Sarney. A expectativa do presidente do sindicato, Lincoln Macário, é que o senador pelo menos sofra uma advertência. O presidente do comitê, Fábio Marçal, afirmou que o episódio foi apenas mais uma situação de “destempero” de Requião.
Após perder o gravador, o repórter tentou prestar queixa à polícia do Senado, mas não conseguiu. Em seguida, foi à Corregedoria, novamente sem sucesso.
Depois de receber de volta o gravador, o cartão de memória só foi entregue ao jornalista pelas mãos do filho do senador, Maurício Thadeu de Mello e Silva. Questionado pelos jornalistas, Maurício disse que “não era político” e que não podia se justificar pelo pai. “Estou aqui como filho.” Maurício trabalha no gabinete do primo, o deputado federal João Arruda (PMDB-PR). (AG)
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