domingo, 30 de janeiro de 2011

O Indiana Jones de Corumbataí do Sul

Florisvaldo Rodrigues da Silva, mais conhecido como “Nenzão”, mora há 35 anos na pequena comunidade da “Água do Juca”, zona rural de Corumbataí do Sul. Hoje, aos 61 anos de idade, pode ser considerado como um verdadeiro “Indiana Jones” – personagem antológico do cinema que descobre tesouros e antiguidades.
Afinal de contas, ele vive em um local místico, cercado pela história do Caminho do Peabiru e de resquícios indígenas que começam a ser descobertos em estradas e rios. Este é o caso da Pedra do Índio, uma grande rocha localizada às margens de um córrego da região, cujas formas ali riscadas intrigam a imaginação dos poucos que a viram.
“Nenzão” herdou o apelido dos pais, ainda criança. Ele nasceu na década de 50, na pobre cidade de Aracatu, interior da Bahia. Vendo o solo estéril e um clima igual ao deserto, os pais deixaram a angústia e os 20 alqueires de terra e rumaram num caminhão pau de arara com destino a São Paulo. Eram quase 50 pessoas amontoadas sobre a carroceria para percorrerem, juntos, cerca de mil quilômetros. “Somente da minha família eram 13 pessoas. Naquela viagem perdi a unha do dedão do pé, de tanta coisa que viajava sobre a gente”, lembra. 
De São Paulo vieram ao Paraná e, depois, até Corumbataí do Sul. Uma vez instalado na região, “Nenzão” virou homem do campo e, como conseqüência, tornou-se um legítimo paranaense. “Aqui é o melhor lugar do mundo”, afirma o ex-baiano. Trabalhando na “roça”, passou a descobrir as relíquias cravadas sob a terra. Primeiro encontrou uma ferramenta – um tipo de martelo - utilizada pelos indígenas para corte. Outra vez, observou uma estrutura arredondada em uma recente estrada aberta na região. Tratava-se de uma cerâmica pesada, esculpida e com buraco em uma das extremidades. Segundo ele, a peça era usada para a alimentação dos indígenas.
Com o tempo, outros objetos foram descobertos. Muitos foram doados a colecionadores. Mas uma boa quantidade ainda se encontra com “Nenzão”. Ele conta que moradores locais têm medo de encostar em antiguidades porque acreditam se tratar de “pedras de raios”. Ou seja, raios que caíram e acabaram esculpindo as rochas. “Diz que depois de sete anos alguém vem pegar as pedras”, afirma. O achado mais importante da região ainda é um mistério a ser desvendado. Sob a mata fechada, às margens de um pequeno córrego, há dezenas de anos, encontra-se a Pedra do Índio, uma rocha com circunferências cravadas a mão. Nem mesmo ele arrisca dizer o que ela significa. “Não sei dizer para que servia. Mas que é curioso, isso não tenho dúvidas”, diz.       
Aposentado, “Nenzão”, hoje também ganha a vida na lavoura e com um pequeno rebanho. Possui um velho armazém onde comercializa cerveja, tubaína, pinga, doces e gás. No local, ainda encontra-se a reluzente figura do antigo lampião. Trata-se de um ambiente bucólico, onde seus objetos remetem os clientes ao passado. Uma geladeira vermelha, da década de 70, e que funciona. Uma Tv pré-histórica, sem uso. Cartazes políticos de candidatos de Campo Mourão nas paredes. Uma grande presa de porco pendurada, uma mesa de sinuca e diversas engenhocas utilizadas na agricultura. E é ali, atrás de um balcão rústico feito com madeira da região, onde ele passa a maior parte do seu tempo, contando histórias, como o bom Indiana Jones do cinema.

Antiguidades no Caminho do Peabiru
Todos os achados de “Nenzão” se localizam no trecho conhecido como Caminho do Peabiru. Por estes dois aspectos, a região acabou se tornando bastante mística. Se não bastassem as descobertas de vestígios indígenas, um grupo criou a Rota da Fé, uma peregrinação religiosa. Em todo o trecho que liga a comunidade da “Água do Juca” até Campo Mourão – cerca de 30 quilômetros – foram construídos imagens de santos e colocadas pedras com inscrições e mapas, aumentando ainda mais o misticismo do local. A idéia, no futuro, é que o trajeto se transforme num caminho religioso, algo semelhante ao que é hoje o caminho de Santiago Compostela, na Espanha. “Nenzão” também informou que, há muitos anos, quando aquela região ainda mantinha suas reservas florestais intactas, ele próprio vivenciou fatos inexplicáveis. “Às vezes via feixes de luz incidindo à noite sobre a mata. Em segundos, aquela luz desaparecia. Assim como eu, muita gente viu também”, afirma.

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