O ex-vice-presidente da República José Alencar dirigiu o Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e uma série de entidades patronais antes de chegar à capital federal. Em 1994, disputou pela primeira vez uma eleição, para governador. O sonho de assumir o Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas, lugar ocupado, segundo sempre ressaltou, por Juscelino Kubitschek, Milton Campos, Tancredo Neves e Magalhães Pinto, nunca se concretizou. Alencar morreu nesta tarde, de acordo com o oncologista Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês.
A fase de representante de classe sempre foi vista por Alencar como período de militância política. 'Muita gente, quando fala na história do Lula, diz que ele foi um líder sindical. Eu também fui. Só que o meu sindicato era patronal. Fui presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem de Minas Gerais, da Federação das Indústrias de Minas Gerais. E, antes disso, rapazinho, era da Associação Comercial', disse, em entrevista à Agência Estado.
Ele contou que começou a trabalhar em campanhas políticas em 1950, quando apoiou Getúlio Vargas para Presidência da República e Juscelino para governador de Minas. Em 1955, ajudou nas campanhas de Juscelino para presidente e de Bias Fortes a governador. Na disputa de 1960, defendeu Henrique Teixeira Lott e Tancredo Neves, para os respectivos cargos. Em 1989, na primeira eleição presidencial depois do golpe militar, votou em Ulysses Guimarães no primeiro turno e em Lula, no segundo turno.
Mesmo com a presença cada vez mais constante nas tribunas das entidades empresariais a partir da década de 1960, Alencar ficou fora da lista dos defensores do regime instalado com o golpe de 1964 contra o presidente João Goulart. O nome de Alencar não consta na relação de empresários mineiros ligados ao Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes), entidade que promoveu eventos conspiratórios contra Goulart -, levantada pela pesquisadora Heloísa Starling, autora do livro 'Os Senhores das Gerais', um estudo sobre a atuação dos mineiros no período.
Em 1998, Alencar se elegeu senador pelo PMDB com mais de três milhões de votos. No Senado, mantinha conversas com colegas de partidos e correntes políticas diversas, como Heloísa Helena, à época no PT, Marina Silva (hoje no PV) e Agripino Maia, do então PFL, hoje DEM. A relação com Agripino, um adversário ferrenho do governo Lula, seria mantida mesmo nos momentos de clima exaltado entre o Planalto e a oposição. Eles se aproximaram quando Alencar montou uma fábrica da Coteminas no Rio Grande do Norte, ainda nos anos 1980.
Prático
Embora tenha mantido o discurso explosivo contra a equipe econômica, as interinidades do vice, na maioria das vezes, foram tranquilas. A única vez que abriu o gabinete de Lula à imprensa foi no fim de janeiro de 2004 para dar explicações sobre o fato de ter orientado um hospital a dar prioridade a uma neta de um eleitor que precisava de transplante de medula óssea. O jeito prático de resolver as coisas de Alencar trombou numa rara ocasião com a opinião pública. Foi acusado de furar a fila, embora nesse caso não haja fila. Os transplantes levam em conta características do doador e do paciente.
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