quarta-feira, 9 de março de 2011

Paraná terá três abrigos inéditos para dependentes de crack

O Plano Integrado de Enfren-tamento ao Crack, lançado em maio do ano passado pelo governo federal, trouxe novidades para o Paraná em 2011. Os municípios de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, de Cascavel, no Oeste, e de Para-navaí, no Norte, serão os primeiros do estado a ter as Casas de Acolhimento Transitório (CAT) para abrigar dependentes que estão na fase de reinserção social após o início do tratamento. As unidades abrirão 40 vagas para dependentes químicos que não podem voltar para suas casas por estarem em situação de risco ou serem rejeitados pela família.
O abrigo será mantido pelo governo federal, por meio do Ministério da Saúde, em parceria com os municípios. Em todo o país, 16 estados receberão 38 projetos neste ano. Os municípios foram escolhidos a partir da aprovação de projetos enviados à Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), ligada ao Ministério da Justiça, após editais lançados em setembro. Os resultados foram divulgados no início de janeiro, mas os convênios ainda não foram assinados e os recursos ainda não foram enviados às prefeituras.
Dois CAT-1, com capacidade para dez pessoas cada, serão instalados em Araucária e Paranavaí. Cascavel receberá um CAT-2, com 20 vagas. As duas categorias permitem internamentos de até 40 dias. O primeiro tem custo de instalação de R$ 120 mil e o segundo de R$ 180 mil. O subsídio federal inclui ainda uma verba mensal de manutenção, pelo período de um ano, de R$ 18 mil para as unidades menores e de R$ 24 mil para a maior. Os municípios entram com o espaço físico e os recursos humanos.
Em Paranavaí, segundo o coordenador de Saúde Mental no município, Ari Martinez, a casa começar a funcionar entre 60 e 90 dias. Em Cascavel, o imóvel está sendo reformado para receber o projeto. De acordo com a gerente municipal da Divisão de Saúde Mental, Iara Agnes Bach da Costa, a unidade entra em funcionamento assim que verba de instalação for depositada. A prefeitura de Araucária preferiu não comentar os detalhes do projeto até que o convênio seja assinado.
As CATs servirão como um abrigo e terão equipes de apoio para atender os dependentes. Como a aprovação dos projetos pela Senad estava atrelada à existência de um Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps-AD) nos municípios, os dependentes encaminhados para as casas deverão ser tratados nos Caps, que funcionam pela manhã e à tarde com oficinas terapêuticas e assistência psicológica e médica.
As novas unidades foram concebidas ainda em 2009 no Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção de Álcool e Outras Drogas (Pead), que foi potencializado pelo Plano de Enfrentamento ao Crack. As primeiras unidades foram instaladas em Recife (PE) e em São Bernardo do Campo (SP). Segundo os dirigentes da Saúde Mental dos três municípios paranaenses, há demanda para os serviços. O Ministério da Saúde estima que existam 600 mil usuários de crack no país.
Lacunas
A psiquiatra e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Maria Thereza Aquino considera a iniciativa positiva, mas teme lacunas. Segundo ela, tudo é inédito quando se fala no enfrentamento ao crack, já que a droga é recente. “A coisa boa é tirar essa população dos lugares sombrios onde ela vive, exposta a riscos e a doenças, mas por outro lado vai forçar o convívio de pessoas que podem não ter os mesmos ideais”, afirma. Maria lembra a realidade do Rio de Janeiro, que tem facções criminosas rivais e cujos membros poderão ser atendidos em uma mesma unidade.
Para a psiquiatra, que estuda o crack desde os anos 90 no Brasil e nos Estados Unidos, o plano nacional, que contempla essa e outras ações, ainda não atingiu o “coração” da droga, que é o custo muito baixo. “Enquanto a pedra de crack estiver custando R$ 5 vai ser difícil combater a dependência. Preci-samos inibir o comércio dos insumos do crack, como o bicabornato de sódio e o éter, para deixar a droga cada vez mais cara”, afirma.

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